3I/ATLAS: O intrigante cometa interestelar que atravessa nosso Sistema Solar
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Cometa 3I/ATLAS é o terceiro visitante interestelar confirmado no Sistema Solar. Descubra sua trajetória, composição, mistérios e o que vêm revelando as últimas observações.
Introdução
No universo imenso, objetos que cruzam nosso Sistema Solar vindos do espaço interestelar são raros e despertam fascínio. Em 2025, um novo nome entrou para essa lista: 3I/ATLAS (também designado C/2025 N1). Este cometa não apenas surpreende por sua origem externa, mas por suas características incomuns que desafiam nossa compreensão. Neste artigo, exploramos desde a descoberta, a trajetória, os dados científicos mais recentes até as hipóteses mais intrigantes sobre sua natureza.
1. Descoberta e identificação inicial
Em 1º de julho de 2025, o telescópio ATLAS (Asteroid Terrestrial‑impact Last Alert System), instalado em Río Hurtado, Chile, detectou um objeto em movimento rápido no céu, inicialmente catalogado como A11pl3Z. (Serviços e Informações do Brasil)
Logo as análises orbitais mostraram que sua órbita era hiperbólica — ou seja, ele não está gravitacionalmente preso ao Sol, sinal de que veio de fora do nosso Sistema Solar. (Serviços e Informações do Brasil)
Com essas características, passou a ser classificado como 3I/ATLAS (“3I” porque é o terceiro objeto interestelar confirmado, “I” de interestelar, “ATLAS” pela equipe discoveradora). (Serviços e Informações do Brasil)
Desde sua descoberta, diversas campanhas de acompanhamento foram acionadas ao redor do mundo para observar este visitante raro. (Praticando Ciência)
2. Trajetória, visibilidade e aproximações

2.1 Órbita e passagem pelo Sistema Solar
3I/ATLAS segue uma trajetória hiperbólica, típica de objetos que atravessam o Sistema Solar apenas uma vez, sem retornar. (Wikipédia)
Seu periélio (maior aproximação ao Sol) está previsto para cerca de 29–30 de outubro de 2025, a aproximadamente 1,36 a 1,4 UA (~203 a 210 milhões de km do Sol) (Wikipédia)
A maior proximidade com a Terra não será tão dramática — ele não representa risco de colisão. (Wikipédia)
2.2 Aproximação a Marte
No dia 3 de outubro de 2025, 3I/ATLAS fez uma passagem próxima de Marte, a cerca de 29 milhões de quilômetros de distância, viajando a uma velocidade estimada em ~310 mil km/h. (BNews Natal)
Essa proximidade permitiu que sondas orbitando Marte e observatórios espaciais registrassem imagens e dados privilegiados. (Live Science)
2.3 Visibilidade da Terra
Durante parte de 2025, o cometa poderá ser observado com telescópios a partir da Terra, embora em condições desafiadoras por seu brilho baixo. (Serviços e Informações do Brasil)
Em momentos críticos, quando estiver muito próximo ao Sol (periélio), ficará difícil observá-lo da Terra. Ele pode reaparecer para observações a partir de dezembro de 2025. (Serviços e Informações do Brasil)
3. Composição e observações recentes
3.1 Coma rica em CO₂ e outros voláteis
Uma das observações mais marcantes veio do James Webb Space Telescope (JWST), que analisou a coma (a nuvem de gás e poeira em torno do núcleo) no infravermelho e detectou que é dominantemente composta por dióxido de carbono (CO₂). A razão CO₂ / H₂O foi estimada em ~8,0 ± 1,0, um valor bastante elevado comparado à maioria dos cometas conhecidos. (arXiv)
Além disso, foram detectados água (H₂O), monóxido de carbono (CO), sulfeto de carbonila (OCS), gelo de água e poeira. A emissão de CO₂ parece mais intensa na direção que enfrenta o Sol (sunward). (arXiv)
Essa abundância incomum de CO₂ pode indicar que o núcleo tem características diferentes dos cometas do nosso sistema — talvez ices mais profundos, menos aquecimento ou exposição de camadas específicas. (arXiv)
3.2 Detecção de água (emissão de OH)
Em outra pesquisa, usando dados ultravioleta do observatório Swift (Neil Gehrels Swift Observatory), foi detectada atividade de água via emissão de OH (hidroxila) na região de ~3085 Å. (arXiv)
A taxa de produção estimada é da ordem de 1,35 × 10²⁷ moléculas por segundo (~40 kg/s), quando 3I/ATLAS estava a ~3,51 UA do Sol. (arXiv)
Isso implica que uma fração significativa da superfície está ativa, possivelmente mais de 20% da área, o que é alta comparada a cometas típicos. (arXiv)
3.3 Polarização extrema e propriedades ópticas
Em observações polarimétricas feitas com telescópios como VLT, NOT e outros instrumentos, descobriram que 3I/ATLAS apresenta uma polarização negativa profunda (mínimo ~ –2,7%) em ângulos de fase baixos (~7°) e ângulo de inversão ~17°. (arXiv)
Esse comportamento é incomum para cometas ou asteroides do Sistema Solar — pode sugerir propriedades únicas de granulação, composição ou estrutura da coma. (arXiv)
3.4 Fotometria e variação de brilho
Observações fotométricas feitas com o telescópio SOAR, logo após a descoberta, monitoraram o brilho do objeto em várias noites. (arXiv)
Esses dados mostram que 3I/ATLAS não apresentou flutuações bruscas no brilho ao longo dos dias observados, embora tenha havido aparentes “altas” em magnitude (~0,8 mag), que foram atribuídas a contaminação estelar ou condições atmosféricas ruins, não a variações reais de atividade. (arXiv)
As magnitudes observadas foram ~18,14, 17,55 e 17,54 em noites diferentes, já considerando a interferência de estrelas próximas. (arXiv)
4. Mistérios, hipóteses e debates

O que torna 3I/ATLAS especialmente atraente — e controverso — são as suas características que desviam do padrão dos cometas do Sistema Solar. A seguir, alguns dos pontos mais debatidos:
4.1 Possível origem interestelar antiga
Estimativas sugerem que 3I/ATLAS pode vir do disco grosso da Via Láctea, uma região onde residem estrelas mais antigas, o que torna plausível que ele tenha entre 5 a 7 bilhões de anos ou mais — possivelmente mais velho que o próprio Sistema Solar. (Wikipédia)
Se confirmado, ele seria um mensageiro de regiões galácticas antigas, trazendo pistas sobre ambientes planetários além do nosso canto da Via Láctea.
4.2 Emissão de metais / anomalias químicas
Alguns relatórios (de jornais e blogs) afirmam que o VLT detectou emissão de níquel (sem ferro) e até cianeto em quantidades incomuns para cometas naturais, sugerindo origem tecnológica ou industrial. (Diário do Povo)
No entanto, até hoje essas reivindicações não foram confirmadas por estudos revisados por pares.
4.3 Hipótese de objeto artificial / sonda
Há autores (como Avi Loeb) que sugeriram que algumas características — trajetória estranha, emissões incomuns, falta de aceleração não gravitacional – poderiam indicar que 3I/ATLAS é, ou contém, uma sonda tecnológica ou objeto artificial. (OVNI Hoje!)
Porém, o consenso entre muitos astrônomos é que tais especulações são prematuras e que o comportamento é compatível, globalmente, com um cometa natural extraordinário. (Serviços e Informações do Brasil)
4.4 Comparações com cometas interestelares anteriores
3I/ATLAS é o terceiro objeto interestelar confirmado, depois de 1I/‘Oumuamua (2017) e 2I/Borisov (2019). (Wikipédia)
Comparado com 1I/‘Oumuamua, que não apresentou atividade cometária visível, e 2I/Borisov, rico em monóxido de carbono, 3I/ATLAS parece ter uma composição diferente, mais rica em CO₂ e água. (arXiv)
Se observarmos com atenção suas diferenças, poderemos ampliar nosso entendimento sobre variedade de corpos interestelares — não são todos iguais.
5. Implicações científicas e futuras observações

5.1 Um “laboratório” interestelar
Cada objeto interestelar que atravessa nosso Sistema Solar é uma janela única para estudar materiais que não se formaram conosco. 3I/ATLAS oferece a chance de explorar:
- composição química distinta (ex: CO₂ dominante)
- estrutura de comas e emissão de gases distantes
- variabilidade de atividade em distâncias remotas
- comparações entre cometas locais e interestelares
5.2 Observatórios futuros e seguimento
Enquanto 3I/ATLAS se aproxima do Sol e depois segue viagem de volta ao espaço profundo, observatórios terrestres (grandes telescópios ópticos e infravermelhos) e espaciais continuarão monitorando sua evolução.
O Telescópio Vera C. Rubin (em Cerro Pachón, Chile) já captou imagens pré-descoberta do objeto e promete identificar mais objetos interestelares no futuro. (Live Science)
Espera-se que novas observações ocorram em dezembro de 2025, quando o cometa reaparece após passar atrás do Sol. (Live Science)
5.3 Propostas ousadas: missão kamikaze
Há discussões especulativas sobre enviar sondas em trajetória “kamikaze” para interceptar 3I/ATLAS, como sugerido pelo astrônomo Avi Loeb. (UOL)
Mas, na prática, lançar uma missão após a descoberta exigiria um delta‑v (variação de velocidade) muito elevado, inviável com a tecnologia atual, especialmente para pegar um objeto com trajetória quase imprevisível. (Wikipédia)
6. Conclusão
O cometa 3I/ATLAS representa não apenas mais um corpo celeste cruzando nosso Sistema Solar, mas uma peça-chave para decifrar o que há “lá fora”. Com sua composição rica em CO₂, atividade em grandes distâncias, estranhezas ópticas e debates sobre origem — natural ou artificial —, ele provoca uma série de questionamentos e oportunidades científicas.
À medida que novas observações chegam, teremos melhor clareza sobre sua natureza, origem e o que ele pode ensinar sobre os sistemas planetários além do nosso. Um fato é certo: 3I/ATLAS está entre os objetos mais intrigantes já observados, e acompanhar sua jornada será fascinante para astrônomos e interessados por astronomia nos próximos meses.
Referências & notas
- Observações com JWST revelaram coma dominada por CO₂. (arXiv)
- Detecção de emissão de água (OH) com Swift. (arXiv)
- Dados polarimétricos mostram polarização negativa extrema. (arXiv)
- Campanha fotométrica com SOAR. (arXiv)
- Informações de descoberta, trajetória e aproximações: Observatório Nacional, wiki, notícias científicas brasileiras. (Serviços e Informações do Brasil)
- Hipóteses de origem artificial e debates: artigos divulgativos. (OVNI Hoje!)






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